CANTOR E GUITARREIRO
O sol acena matreiro
Depois se manda "a lá cria"
E o braço negro da noite
Fecha a cortina do dia
Mandando o vento anunciar
Que a noite ficou mais fria
E recolhido ao galpão
Sentado num banco baixo
Afino a goela na canha
Pois é assim que encaixo
Os versos que faço a lua
Nalgum bordoneio guacho
Nesta guitarra campeira
Que trago sempre afinada
A companheira haragana
Das noites de guitarreadas
Nos bolichos de campanha
E bailantas beira de estrada
Pois dedilhando a guitarra
Dou rédeas ao coração
E a minha alma pachola
Cavalga na imensidão
Campeando as rimas perdidas
Nos campos da solidão
E a lua berço de sonhos
Entorpecendo o cantor
É inspiradora do poeta
E madrinha do payador
Pois faz do ventre da noite
Nascer as rimas de amor
Por entre acordes e versos
Na minha ânsia teatina
De desbravar horizontes
Na milonga campesina
Como cantor guitarreiro
De dom, de vicio e de sina
E até o gado na invernada
Mugindo vem pra mangueira
E fica escarvando em volta
Numa atitude faceira
No compasso natural
Da melodia campeira