PESCADOR DE ESPERANÇA
Fim de semana acampamento
Beira de rio, boa isca
Brisa fria, noite escura
No pesqueiro alguém arrisca
Na cega sorte fisgar
Um pintado que belisca
Pois diz um velho ditado
Só quem arrisca petisca
Sob um ingá, os gravetos
Onde uma chama se embala
E sobre a trempe sentada
Uma frigideira baguala
Que na espera extenuante
O próprio destino iguala
As chinas feias nos bailes
Mofando os cantos da sala
Num ritual mágico ouço
Da chumbada o assobio
Que cortando o ar afunda
Na água escura do rio
Levando a minhoca presa
Neste destino entaipado
De enfiar o anzol nos beiços
De um surubi desgarrado
Alerta igual quero-quero
Tentiando a linha no dedo
Neste pesqueiro de sonhos
Cavalga a noite sem medo
O pescador de esperanças
Que guarda em si os mistérios
Das noturnas pescarias
Entre causos nada sérios
Entre nuvens de mosquitos
E alguns bicaços na canha
Lambaris e palometas
Vão mergulhando na banha
E o tempo passa a galope
Levando o fim de semana
Fica o vestígio no mato
Nos tições da cajarana