O MISTICO ANOITECER
Fim de tarde, fim de lida
A peonada no galpão
O porongo visita a tulha
E passeia de mão em mão
Enquanto a cambona chia
Abancada sobre os tições
A magia da campanha
Desapresilha as emoções
A noite se faz em festa
Criando acordes campestres
E da sinfonia dos bichos
Brotam tertúlias silvestres
Pra costear as vozes fortes
Dos guitarreiros errantes
Que tentam encantar a lua
Da qual se dizem amantes
A noite é o manto negro
Que a natureza nos veste
E as estrelas no infinito
São bailarinas celestes
Os vaga-lumes nos campos
São luzeiros naturais
Clareando a alma da historia
Nos épicos imortais
A aura mística envolve
O ritual do chimarrão
Rebuscando amores perdidos
No peito de cada peão
E as declarações se fazem
No versejar da peonada
E se perdem noite adentro
Buscando o ouvido da amada
E as labaredas se elevam
Dos tocos de espinilho
Negaciando alguma rima
Pras milongas que dedilho
E eu que sou guitarreiro
E também poeta de alma nua
Arregaço as portas do peito
Cantando em louvor a lua