METAMORFOSE DE UMA "ESQUERDISTA"
Surpreso, atônito, estupefato
Vislumbrei num entrelinhas o fato
Da impensabilíssima adesão
Ao capitalismo dantes esconjurado
E ora entusiasticamente abraçado.
Transição natural ou mera cooptação?
Por burguesas delícias capturada:
Salarial remuneração multiplicada;
Do vegetarianismo, uma abdicante;
Tintos secos reverentemente sorvidos;
Sushis prazerosamente consumidos.
Proferes: Origens sertanejas? ESTOU DISTANTE!
Prolatas: preservo meu poetar,
DO ESQUERDISMO DISCURSIVO não vou abdicar.
Caminhadas ecológicas? Doravante hão de jazer...
Calor e insolação? Qualquer exercício temerário
Aprisionarei num indevassável claviculário.
A bandeira que hoje empunho é a do MEU prazer.
Da Caatinga à Cajuína
Segues sendo igual menina.
Mas ao aparato estatal vinculada.
Emergindo dos becos e do escuro
Ternurando em sonhos de mais-valia o futuro
De patricinha nem um pouco disfarçada.
Sei que o vestuário massificado
Cedeu espaço a estilo personalizado.
Quem te escreve é assíduo e entusiasta leitor
De versos teus com rima e não rimados
E intuitivo sabedor
De teus caminhares metamorfoseados.