Canto Real Para Orfeu

Oh! Célicas plumagens, e d’alvura

trovejando do Olimpo profanado,

flautins d’ouro, dossel da brandura

alcatifando o louro amendoado.

Ai! Sol das colunatas da Beleza,

dos almíscares lúbricos, da acesa

Sereia dos angélicos clorantos.

Aos mares de Netuno quedam prantos

da lira prometida à taça em flor;

farfalham diamantes de acalantos?

Dos vates, da tertúlia, do primor!

Ascende a letra imersa na brancura

dos éteres do eterno condenado.

Grilhões de Prometeu na pedra dura,

envolto em Eurídice, tresloucado,

aos berros trescalando a correnteza

do Letes coroando a camponesa

Bacante dos prazeres, dos espantos,

da lira dedilhada nos quebrantos

arfando o mavioso resplendor.

No seio de Afrodite, chovem cantos?

Dos vates, da tertúlia, do primor!

E banha de volúpias e d’Altura,

o argênteo vagar emoldurado,

da messe que de Zeus faz a nervura

do braço das Acrópoles, ruflado

nas vinhas dos incensos da pureza

de Cronos nos volteios da leveza

desabrochando os sonhos sacrossantos.

No calcinar das auras heliantos,

a refulgente Safo traz dulçor

nos amores, segredos e recantos?

Dos vates, da tertúlia, do primor!

Das pétalas airosas da procura...

Oh! Ninho de Aleluias e de Fado;

corusca o sentimento da loucura

num verso por essência constelado.

É Vésper flamejando sua grandeza...

É o bardo devorado na presteza

do cálido rastilho de seus mantos.

Avante vai beijar os lumens tantos,

nos raios no sacrário redentor,

tomado de delírio nos encantos

dos vates, da tertúlia, do primor!

Colore de carmim a luz impura

dum Hades corroído e inexplorado.

E do lusbel excelso da tortura

afronta-se os Titãs do verso alado,

tremendo na Epopéia a sutileza

que arranca do mistério a macieza

da lágrima poética dos Santos.

Caindo das folhagens de amarantos

das rendas nas estrelas em torpor,

respinga nos frondosos eriantos,

dos vates, da tertúlia, do primor!

Oferta

És Mestre das floradas nos isantos

de quem se enrubesceu nos miriantos,

em celeste bafejar do sonho em cor;

por verdejar secretos periantos

dos vates, da tertúlia, do primor!