TROTEANDO

TROTEANDO

A chaleira cheia de água que chia

O cigarro aceso

O primeiro do dia

Que avista ao longe o sol e sobre o dia seu peso

Em campos de querência

No trote agalopado

Nas pernas a insistência

De romper mais um dia sem ter você ao meu lado

No chão o braseiro da noite

Que esporeio para esquecer

A água limpa da fonte

Que se transforma em vinho ao amanhecer

Na pele o suado gosto do charqueado

E a campanha que é seca de dar dó

Carrego Deus ao meu lado

E a sina de um macanudo que é só

Campos manchados pelo bento sangue de Caxias

E o santo e bento sangue de Bento

As bombachas molhadas de bosta no meio do dia

E Ana que é Terra é tempo, é vento...

A ardência na pele trincada quando o suor a encontra

Tropeiro valente, mas que chora com o vinho

Acima só o sol e Deus

Abaixo o peão cansado, torturado e sozinho

Ouve minha prece Cristo sagrado

Tu que foste sangrado e posto no madeiro

Santo Tropeiro arrebanha a tropa de dor ao teu lado

E apascenta o peito deste pobre cancioneiro

Que quase morreu na peleja da lida

Foi ferido no leito com o desprezo da amada

Na bomba e no trago, busca algo além de vida

Apear do cavalo, dormir e recomeçar a jornada

Sérgio Ildefonso 21.10.2007

Sérgio Ildefonso
Enviado por Sérgio Ildefonso em 07/06/2012
Reeditado em 19/01/2017
Código do texto: T3710392
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