TROTEANDO
TROTEANDO
A chaleira cheia de água que chia
O cigarro aceso
O primeiro do dia
Que avista ao longe o sol e sobre o dia seu peso
Em campos de querência
No trote agalopado
Nas pernas a insistência
De romper mais um dia sem ter você ao meu lado
No chão o braseiro da noite
Que esporeio para esquecer
A água limpa da fonte
Que se transforma em vinho ao amanhecer
Na pele o suado gosto do charqueado
E a campanha que é seca de dar dó
Carrego Deus ao meu lado
E a sina de um macanudo que é só
Campos manchados pelo bento sangue de Caxias
E o santo e bento sangue de Bento
As bombachas molhadas de bosta no meio do dia
E Ana que é Terra é tempo, é vento...
A ardência na pele trincada quando o suor a encontra
Tropeiro valente, mas que chora com o vinho
Acima só o sol e Deus
Abaixo o peão cansado, torturado e sozinho
Ouve minha prece Cristo sagrado
Tu que foste sangrado e posto no madeiro
Santo Tropeiro arrebanha a tropa de dor ao teu lado
E apascenta o peito deste pobre cancioneiro
Que quase morreu na peleja da lida
Foi ferido no leito com o desprezo da amada
Na bomba e no trago, busca algo além de vida
Apear do cavalo, dormir e recomeçar a jornada
Sérgio Ildefonso 21.10.2007