Tropeirismo

Poema premiado em primeiríssimo lugar, em 20/09/2011, no concurso literário promovido pelo grupo de Nativismo "Couro Cru" em Nova Esperança do Sul-RS.

Tropeirismo

Da nossa abundância de gado bovino,

que alçados povoavam a serra e o pampa,

surgiu o tropeiro de raça e estampa,

de gado e mulas ao Brasil central.

Levando reponte, bem mais que animal,

a nossa cultura de guasca terrunho

e trazendo a caipira das noites de junho.

Incôncio intercâmbio na luz cultural.

Do pouso das tropas nasceram cidades,

das grandes tropiadas dos tempos de entanho,

abriram picadas tocando rebanho

de sonhos distantes, na vida judiada,

plantando saudades no rastro da estrada,

na lenta jornada de sinas tropeiras,

levando no lombo das mulas cargueiras,

o peso da ausência da mulher amada!

Por desbravadores, ficaram na história,

seus feitos heróicos, de brava existência,

tropeando civismo, cambiando querência,

nos tempos sofridos de mil setecentos,

guapeando intempéries de geadas, de ventos,

de chuvas guasqueadas, mormaço e de frio,

das águas traiçoiras das cheias de rio,

de fiambres escassos levados lnos tentos.

Se a tropa por diante já vai sonolenta,

é hora do pouso bem junto à aguada

e o ronda silente, vigia a manada,

de olhos cansados, por sob o chapéu,

resguarda das feras que vêm a boléu,

buscando comida, por força de instintos,

do vôo agourento de abutres famintos,

igual cruzes negras que bailam no céu!

Assim estes vates, com Deus por parceiro,

levaram estradas, carinhos, farturas,

deixando saudades em muitas lonjuras,

que o tem conserva na história sagrada,

de tauras viciados na dura jornada,

de amor aos rigores do clima e da lida.

Um rude estradeiro não troca de vida,

pois que foi tropeiro, não quer ser mais nada!

Ago/2011

Darci Éverton Dárgen