PIOR QUE SARNA E PESTE
Depois de um belo “cambicho”
De “gasta” a lã dos pelegos
A “chinoca” pediu “arrego”
E sai campear um “bochincho”
Comigo não tem de bicho
Pois quando a sede me assola
Pro ambiente eu não dou bola
Nem quanto custa a cachaça
E “toreio” esta vida “guacha”
No mundo que é a minha escola
De pingo bem encilhado
E “pilchado” bem a contento
Farejei de contra o vento
Um “surungaço” animado
E num “tranquito” socado
Sou taura e não me desmancho
Cheguei na porta do rancho
Larguei meu pingo no pasto
E com o mango de arrasto
Fui me enfiando de “carancho”
De trinta, bem engasgado
Chapéu grande e mango feio
Não pisco em terreno alheio
E nem como nada enrolado
Queixo duro e desconfiado
Já nasci meio nervoso
Mescla de louco e sestroso
Uso lenço a meia espalda
E gosto é de tirar balda
De “maula” que é pretensioso
Dançavam, dancei também.
Me olhou feio um melenudo
E no meu jeitão topetudo
Não dei tempo pra porem
Nunca “frouchei” pra ninguém
Se meter o peito eu agüento
Dou de talho ate no vento
Apago os candeeiros à bala
E quem estiver dentro da sala
A mango e adaga, arrebento.
Com toda a força do braço
O meu mango velho desceu
E o “retovado” gemeu
Num vendaval de “mangaço”
A indiada se veio aos maços
Que ate o ar coloreava
Quando minha adaga virava
Indicando o cemitério
Para algum índio “gaudério”
Que a existência deixava
“Peleei” ate clarear o dia
Fiz muitos dançarem tango
Sob a tala do meu mango
E da velha adaga Maria
E o balanço desta anarquia
Foram dois ou três finados
Mais meia dúzia espalhados
Agonizando e com medo
De no final deste enredo
Ter a alma do outro lado
Montei no pingo bem cedo
Larguei ao trote no mas
Deixei gemidos pra trás
E o choro do “chinaredo”
Conto sem fazer segredo
Pois cada “peleia” é um teste
Que a natureza silvestre
Me impõe, por eu ser gaúcho
“Torena”, livre e sem luxo.
E pior do que sarna, e peste.