DOMANDO CERRO E CAMPESTRE

Em um fundão esquecido

Passei um tempo enfurnado

Coçando “maula”” aporreado”

E dobrando potro atrevido

Oficio pior eu duvido

Que este de domador

É preciso ter muito amor

E na lida ser apegado

Pra viver “esgualepado”

E quase afogado em suor

Mas as ganas de índio novo

“Pateavam” dentro da alma

E pra recompor a calma

Dei os costados no povo

Com ânsias, mas sem “retovo”

Me “aprumei” frente ao espelho

E me fui meter o bedelho

Nos becos do meu desterro

Campeando um lugar no cerro

Pra tirar a água do joelho

Lá na tasca da tia “gringa”

Tava bem calmo o ambiente

Só tinha ali dois viventes

Da canha senti a catinga

Em local assim não vinga

Nenhum amasso “cuiudo”

E um “gaudério” topetudo

Procura é um belo “cambicho”

Pra assegurar a capricho

Um pouso bem “macanudo”

Então me fui pra o Jose

Procurando um rebuliço

Enfiei-me naquele enguiço

Querendo gastar os pés

E “retoçar” com as “muiés”

Derretendo o sebo das ancas

Num tranco de mula manca

Chorar as magoas pra prenda

Pra segurar a merenda

Caso ela topasse a banca

Mas se meteu um gaiato

Desses que nasce de indez

E o tempo fechou de vez

Fedendo a tripa de gato

Eu pior do que carrapato

Grudei-me neste vivente

Pois sou que nem dor de dente

Incomodo pior que “berno”

E tiro ate o diabo do inferno

Quando estou de marca quente

Não é questão de ser mau

Mas quando me deixam louco

Eu meto o facão no toco

E o “ariguá” esfolo a pau

Por mim que esteja “mamau”

Se pedir tem que levar

Pra meter tem que agüentar

E eu agüento o repuxo

Sou preto não tenho luxo

Mas sei o que é respeitar

Apagou-se a luz “vermeia”

Encerrou-se o “chinaredo”

Saltei pra fora sem medo

Sestroso e trocando “oreia”

Noite clara, a lua cheia.

Comigo não tem marola

Pra dançar coiceando a cola

Enveredei pra outra tasca

E me enfurnei na tia casca

A docinho do “caçarola”

“Retocei” a noite inteira

Dancei com nova e com “véia”

Era um zangão na colméia

Testando a melhor parceira

Parecia ate brincadeira

Foi tudo cento por cento

Destravei meu sentimento

E concretizei o “cambicho”

Atracado mesmo que bicho

Comi ração a contento

Pelas cinco da madruga

Pendendo pra o novo dia

Cansado de tirar cria

No meio das sangue suga

Uma borracha me aluga

E quebrei a coice o “girau”

Fiz a china dormir a pau

E levantei acampamento

De melena solta ao vento

“Entonado” igual Urutau

Farejei no ar o rumo

E me resvalei cerro abaixo

Mesmo que lagarto macho

Por entre as pedras me sumo

As ferramentas no prumo

E a idéia dando “puaço”

Pois não nasci de “cagaço”

Na bruta lida campeira

E ate entrar segunda feira

Muito “penaredo” eu faço

Meu facão marca formiga

É alongamento do braço

E jamais senti cansaço

Em farra, serviço, ou briga

Sou desses que compra intriga

Pra tirar a cisma da sorte

Nas asas do vento norte

Tiro as pedras do caminho

Sou primo do redemoinho

E sobrinho da negra morte

Num “redevu” da zona baixa

Lá pras bandas do quartel

A voz de Carlos Gardel

Numa sinfonia macha

Que brotava de uma caixa

Na idéia me deu um treco

E fui coiceando os tarecos

Pois nunca fugi da norma

E nasci pra botar em forma

Esses “bebuns” de boteco

Se Deus faz, o diabo espalha.

E eles por si se juntam

E sobre mil coisas assuntam

Com a língua pior que navalha

Mas minha idéia não falha

E dali não sai coisa boa

Então nestes tipos à toa

Que querem bancar o mau

Dou uma tunda de pau

E o que corre menos, voa

É bem assim o meu jeito

Quando a fuzarca me assanha

Metido e cheio de manha

Mas correto e de respeito

O que for torto eu endireito.

De norte a sul, leste a oeste.

Pois sou a essência silvestre

A quem Deus deu o direito

De nascer pra impor respeito

Domando cerro e campestre.

Silvestre Araujo
Enviado por Silvestre Araujo em 14/04/2012
Código do texto: T3612885
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