Marca de caudilho

o

Sintonizei a memória

Na onda das recordações,

Lembrei-me das confusões,

Quando em caudério eu entrava,

Bochincho não me faltava

Pois nunca dobrava a esquina

E para consolar as chinas

Em qualquer fogueira entrava.

Certa feita, me recordo,

Era um sábado de aleluia,

Cevava o verda na cuia

De porongo trabalhado,

Quando recebi o recado

Do João Maneco do Vaile,

Era a notícia de um baile,

Na costa do Retovado.

Gritei logo para um piazote;

Prepare o pingo tordilho,

Já vamos pegar o trilho

Que nos leva à diversão,

Assentei o fio do facão

E me abasteci de bala,

Pois meu trinta sempre fala,

Na hora da confusão.

Eram dez horas da noite

Quando cheguei no local,

Desencilhei o bagual

E me aproximei da entrada;

A festa estava enfesada,

Todo o mundo sorridente,

O porteiro disse; entre,

Não precisa pagar nada.

Corri o olhar no salão

Meio assim de relancina,

Ouvi cochichos de chinas

Que apontavam para o meu lado,

Um gaúcho bem pilchado

Sempre chama a atenção,

Chorava gaita, violão...

O baile estava animado.

Escolhi a prenda mais linda

E fui dançar no compasso,

Pois nunca tive embaraço

Para falar com as donzelas;

Disse baixo, tu és bela

E caiu no meu agrado

E não me fiz de rogado,

Tratei bem a flor singela.

O copo de aguardente

Corria de mão em mão,

Presenti que a confusão

Não ia se demorar,

Pois começaram a caçoar

Do jeito do meu bailado,

Os índios do Retovado

Queriam se machucar.

Nisso saiu um vanerão,

E eu gritei por desaforo;

Dançador para ser touro

Precisa me acompanhar,

Aqui, só sabem trotear

E se julgam bailador,

Para voçês, sou professor,

Parem logo de caçoar.

Era o que estava faltando

Para formar-se o reboliço,

Sou cuera sem compromisso

E não dou bolas para o perigo,

Tenho o chapéu por abrigo

E as armas por companheira,

Apelei para a cartucheira

E dei combate ao inimigo.

Foi aquele tiroteio

E tinido de facão,

Eu não poupei munição

E dava o dedo no gatilho,

Em pelo, montei o tordilho,

Para escapar do entrevero,

Deixei, naquele terreiro,

Minha marca de caudilho.

Felicio
Enviado por Felicio em 19/02/2012
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