O VELHO DO RESTELO (Camões revisitado)
O VELHO DO RESTELO
Vós que partis, parai!
Ouvi a voz deste que
Pela razão se guia
Não credes nos bons ares
Nas águas calmas
Nos bons ventos
Recordai, oxalá,
Desventuras de outros tempos
Meditai, pois, se valerá
Correr tantos riscos
Por mar e por terra
Possuídos por desejos
Os quais bem conheço
Pensai comandante e
Ingênuos navegantes
Nas tristezas em que
Deixam os seus
Até onde a ousadia
Pela nomeada?
Por que fazer correr
Lágrimas e sangue
Por tal empreitada?
Ah, infortunados!
Que tormentos para vós
Não estarão reservados?
Por certo, esses sangues
Amados tingirão os mares
Aquietai , nautas!
Fundeai vossos barcos
Em portos nossos
Onde não há
Nem fantasmas nem glórias
Mas a certeza da vida
Preferi a morte bem sei
Ouvi pela derradeira vez
Esta voz que vos fala:
Desisti! Pela nomeada
A empreitada é infeliz
Eis que vejo a ceifeira
Pontual rondar-vos
Eis quer ouço o som
De negras asas
Espreitando
Esperando
Eis que tenho visões
De barcos engolidos
Por monstruosas ondas
Quebrando
Afundando
Ai, em terra de canibais
Os heróis se acabando