FUNERAL DE CAMPANHA


Rompe o silêncio matreiro
da madrugada um pranto.
Na sala há vela e um santo,
murmúrios e choramingos
numa manhã de domingo
naquele fundo de campo.

Aos poucos se faz o dia
com o sol velando o caixão.
Apeiam junto ao portão
os que foram avisados
e se fazem bem cinchados
abraços e aperto de mão

De encontro ao oitão
O uivo de um cusco solito
vem juntar-se ao rito
da funesta despedida
contra ponteando à alarida
regada a chá e bolo frito

As lamúrias no velório
fazem parte do pedido
de tudo um pouco é bebido
do café ao trago de canha
no funeral de campanha
celebrando o falecido.

A preta cor dos vestidos,
estampa o luto fechado.
Um lenço é pendurado
lá fora ao lado da porta.
Um choro a tarde corta
num soluço sufocado

Dedos se cruzam em prece.
Mãos retiram Chapéus.
Outras seguram véus.
Vozes rezam em ladainha
E a alma que se encaminha
para querência do céu

Agora caminham quietos
seguindo a carreta lenta.
Um suspiro ainda lamenta
Que no caixão embarcado
segue um corpo encomendado
salpicado de água benta

Nem o sol ficou pra ver
o desfecho deste dia
e a noite trouxe agonia
que cobriu a imensidão
e a "sete palmos de chão”
passou a ser moradia.


 
Cesar Tomazzini
Enviado por Cesar Tomazzini em 25/11/2011
Reeditado em 16/12/2012
Código do texto: T3355556
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