COMUNICADO
- Atenção Interior do município ...
Iniciava o comunicado
Bastava o rádio ligado
Pra se saber da cidade
Se o ônibus vinha de tarde
E quem manhã chegava
E a gente se atualizava
Por conta das novidades
Avisos de compra e venda
De qualquer tipo e quilate
Da encomenda de erva-mate,
Ao tal de secos e molhados
Até pequenos recados
- Vou chegar na terça-feira,
Podem esperar na porteira.
Dizia o comunicado
O peão da Estância Adelaide
Que veio pra reforçar a esquila
Changueando por poucos pila
Foi pra o “povo” cedito
Sua patroa ganhou um piazito
E pede sua presença
passa bem, e não esqueça
de uns trocados e um quartito
E assim estes reclames
Iam sendo repassados.
Era com os comunicados
Que ficávamos sabendo
de notas de falecimento
até datas natalícias
E aos poucos estas notícias
viravam entretenimento
O campo ficou inundado
Pois choveu muito esta noite
E a água por sobre a ponte
No passo não deu passagem
Ficou impedida a viagem
Do ônibus da linha três
Segue a encomenda de vocês
Amanhã se houver estiagem
E quando a garoa de agosto
Por semanas se imperava
Nem carreta trafegava
Pelos bretes encharcados
Campo e cidade apartados
Num vazio que dava pena
A “ponte” era uma galena
Através dos comunicados
O vasto silêncio do breu
Tomava conta dos campos
No rancho um rádio num canto
Comprado do mascate
Rimando ao ronco do mate
Os chasques e cantilenas
Deixavam as noites amenas
Ao som da modernidade!
Hoje, os meios são outros.
E a voz num rádio de pilha
Perdida pelas coxilhas
Ecoa no tempo passado
Trazendo aqueles recados
Da mesma forma e teor
- Atenção interior
Pra mais um comunicado.