Bóia Fria

O Matuto levantou cedo e foi pra roça.

A distância vence, algoz dos solavancos secos.

Da carroça pobre e assento podre.

Foice ao ombro, dia todo ao chão.

Terra e mato enrosca, cresce.

E impede que se envolva o grão.

Rama forte, endurece o braço.

Calhamaço duro, propicia o pão.

Pão do dia a dia que a família pede.

Fome e sede vão pra longe dos meus filhos, vão.

Hora passa, casa longe, pesa.

De saudades chora, pinga, molha, reza.

Nem chapéu esconde, forte brilho, quente.

Sua força escoa, meio dia rende.

Sua comida fria, faz sentar à sombra.

Colherada cheia de feijão da sopa.

Fortalece o corpo que em nada é são.

Desespero puro de um dia em um milhão.

Vem o outro, se repete, o mesmo.

Dia de labuta, dia de peão.

Que a vida leva e que leva o matuto do sertão.

O Guaraciense
Enviado por O Guaraciense em 18/10/2011
Código do texto: T3283494
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