ANDEJO

Eu já não tenho querência

Garrei a estrada ontem mesmo

Com o vento forte da noite

Ferindo-me feito um açoite.

Eu não preciso de mais nada

Nem fazenda e nem rincão

Só o poncho para as noites frias

E a erva pro chimarrão.

Vou de alma cristalina

Como a água da cacimba

Estou livre como o vento

Nas folhas da casuarina

Não vou mais criar raízes

Nada tenho para me exibir

Só minha estampa de campeiro

Pra não esquecer donde vim

Vou andar daqui pra lá

Varar montes e sertão

Dar murros em pontas de faca

Cavalgar sem direção.

Mas se mesmo assim

A saudade de ti me alcançar

Não permitirei que a tristeza

Venha comigo morar

Subirei ainda mais alto

Cavalgarei pra mais longe

Farei um esforço supremo

Que a alma de um desgarrado

Possa um dia suportar.

HAMILTON SANTOS
Enviado por HAMILTON SANTOS em 14/10/2011
Reeditado em 17/10/2011
Código do texto: T3275401