ANDEJO
Eu já não tenho querência
Garrei a estrada ontem mesmo
Com o vento forte da noite
Ferindo-me feito um açoite.
Eu não preciso de mais nada
Nem fazenda e nem rincão
Só o poncho para as noites frias
E a erva pro chimarrão.
Vou de alma cristalina
Como a água da cacimba
Estou livre como o vento
Nas folhas da casuarina
Não vou mais criar raízes
Nada tenho para me exibir
Só minha estampa de campeiro
Pra não esquecer donde vim
Vou andar daqui pra lá
Varar montes e sertão
Dar murros em pontas de faca
Cavalgar sem direção.
Mas se mesmo assim
A saudade de ti me alcançar
Não permitirei que a tristeza
Venha comigo morar
Subirei ainda mais alto
Cavalgarei pra mais longe
Farei um esforço supremo
Que a alma de um desgarrado
Possa um dia suportar.