Ultimo Entardecer!

De novo o sol vai de mancito se descabando por detrás dos monte,
A lua cheia se prepara pra iluminar mais uma noite,
á o entardecer, dando espaço para a anoitecer que vai se chegando,
as aves nativas começam a voar suavemente em direção ao horizonte,
e alheio a tudo isso, como se nada mudasse,
ali na porta do rancho, o velho índio, já judiado pelo tempo,
com um olhar frio, olhava o nada,
com a certeza de que nunca se sabe, o que um entardecer, na querência pode trazer.

Na mesma porta do rancho em que vira o filho partir,
onde também teve o desejo de ir pelear com os farroupilhas,
mas ja naquele tempo, era velho e cansado,
um veterano, com orgulho do passado de ter a lança empunhado
combatendo os catelhanos;
e foi numa dessas batalhas, que quando voltou não encontrou mais a mulher,
apenas o pobre guri, a quem dedicou todos dias da sua vida,
até que um dia entrou pela mesma porta a qual estava parado agora,
e com o peito estilhaçado por um lançaço,
teve força para no ultimo sopro de vida, no ultimo afago de amor,
tirar do peito banhado em sangue o pavilhão tricolor.

E agora quando mais um entardecer se desprendia,
ele não sabia, o que o entardecer na querência poderia trazer;
que bom se o entardecer pudesse trazer-lhe de novo o filho,
que não tombou com a sua gente, pra defender o pavilhão tricolor,
queria ao menos dizer o quanto orgulhoso ficou pelo gesto do filho,
e saber se o moço lhe perdoara pelas duras palavras desferidas,
pois não sabia que o filho era tão corajoso que jamais ha de ser esquecido,
pois a pavilhão tricolor tripula numa haste estendida no terreiro,
como que se abanando para o sol que se desprendia no horizonte.

Como era triste viver solito,
não restou nem mesmo um cusco para lamber-lhe os pés,
e lhes fazer companhia nessa hora tão morta,
restará apenas as lembranças, e o rancho,
donde dali, da porta, o velho índio cansado olhava o entardecer,
e lembrava de tudo que passará desde que o filho se foi,
porque o patrão das alturas não o levará no lugar do moço,
afinal ele já tava velho arquejado, e não servia mais pras peleias do dia-a-dia,
mas nunca se sabe, o que o entardecer na querência, pode trazer.

Esse entardecer não era como os outros,
e foi nessa hora tão morta, que uma golpeada lhes rasgou o peito,
e ali na porta do rancho onde virá o filho partir pra revolução,
o velho tombou, mas foi um tombo suave, onde de mancito, foi se aconchegando no chão,
aquele forte estrilho que lhe cortou o peito por um segundo foi esquecido,
e já sentindo que a morte lhe roubará o sopro da vida,
o velho, num ultimo clarão do olhar, quando a escuridão queria romper-lhe a visão,
com veemência ainda olhou pro terreiro, onde o trapo sagrado,
que um dia foi banhado em sangue pelo moço que tombou,
abanava, como se dizendo já chegou sua hora velho teimoso,
e como que se fazendo referencias as tantas batalhas do passado,
que comandará com tamanha destreza em defesa do Rincão,
teve força pra olhar pra aquele trapo sagrado e gritar,
avançar.... e de mancito o sono derradeiro foi chegando,
e o velho partiu... pra estância velha do céu...
Afinal nunca se sabe o que entardecer na querência pode trazer....

Jonas Martins
Enviado por Jonas Martins em 13/10/2011
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