QUEM DIRIA!

Melena rala e tordilha

Vincos do tempo na testa

É tudo o que me resta

Num semblante veterano

De um “índio” forte, aragano

Que se criou por ali

Correndo desde guri

Debochando do minuano

Por mim passou-se o tempo

E a vida naquela estância

Esquecida na arrogância

Do filho do meu patrão

Que assumiu sem ter noção

Do valor de tudo aquilo

E nem o pingo que encilho

Recebi por doação

Quem diria, quem diria?

Me pergunto em pensamento

Sofrenando o sentimento

De uma existência perdida

Sentindo a própria vida

Se esvaindo num galope

Ao ouvir de um piazote

Que já não sirvo pra lida

Foi-se um eito de invernos

Quebrando geada cedito

Ordenhando pra um piazito

Parar de choramingar

Sem tempo para brincar

Cresci no arrocho do campo

Sem afrouxar, no entanto

E sem poder reclamar

Trabalhei na casa grande

Caseriei, cortava lenha

Co' patrão, que Deus o tenha,

Parceiro de campereada

Mateava de madrugada

E tinha sua confiança

Que guardei como herança

De uma vida dedicada

Do que ouvi do meu avô

Contei nas rodas de mate

Marcação, pealo, aparte,

Curar terneiro e tosquia

Ensinei o que sabia

Ao patrão novo de agora,

Para ser mandado embora

Quem diria, quem diria!

Cesar Tomazzini
Enviado por Cesar Tomazzini em 02/08/2011
Reeditado em 20/11/2011
Código do texto: T3135262
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