GAROA COM VENTO
A labareda chomica
Chamusca a lenha molhada
Entre as brasas entrincheirada
Vai peleando contra o tempo
E um rebojo fumacento
Toma conta do galpão
E de encontro ao oitão
Bate uma garoa com vento
Varando fresta e buraco
Assoviando pelos cantos
Lá fora cobrindo os campos
A cortina do aguaceiro
Maroteando no potreiro
Mal deixa se ver o gado
Que vai pastando encharcado
De costa pra o chuvisqueiro
As paineiras se envergam
E voltam se negaciando
E assim vão gambeteando
Os tufões de chuva fria
Gineteia a galharia
Num corcove redomão
Enquanto se abre o portão
E se fecha com a ventania
Um tropel de nuvens brancas
Emparelham carreiradas
Galopando em disparada
Num rumo de sul pra norte
Na busca da própria sorte
De uma estiada teatina
Se esvaiam em chuva fina
Com rajadas de vento forte
E tudo vai se aquietando
A espera da melhora
No fogo a lenha que chora
Faz coro ao chiar da chaleira
E uma coplita matreira
Num deboche à chuvarada
Vai soando ritimada
Contraponteando à goteira
Chora o alambrado da frente
Gotejando gotas finas
E o pastiçal que se inclina
Se ondula ao sopro do vento
Que galopa mato adentro
Varando o turvo da noite
Chicoteando num açoite
Com a intempérie do tempo
Nestes dias de chuvisco
Que a nostalgia se impera
Num rancho quase tapera
Um cenário instigante
O vento sopra uivante
De encontro à quincha entonada
Num gemer de alma penada
Num sonido arrepiante.
É meados de agosto
Tempo de chuva guasqueada
Destas de correr deitada
Molhando a cara da gente
A água escorre inclemente
Pelo talo do pescoço
Encharcando até o osso
Quando se pega de frente
Em dia de chuvisqueiro
A cuscada se ressente
Lá fora qualquer vivente
Que se encontre ao relento
Neste dia aguacento
Só vai estar abrigado
Quando enfrentar emponchado
Uma garoa com vento