GAROA COM VENTO

A labareda chomica

Chamusca a lenha molhada

Entre as brasas entrincheirada

Vai peleando contra o tempo

E um rebojo fumacento

Toma conta do galpão

E de encontro ao oitão

Bate uma garoa com vento

Varando fresta e buraco

Assoviando pelos cantos

Lá fora cobrindo os campos

A cortina do aguaceiro

Maroteando no potreiro

Mal deixa se ver o gado

Que vai pastando encharcado

De costa pra o chuvisqueiro

As paineiras se envergam

E voltam se negaciando

E assim vão gambeteando

Os tufões de chuva fria

Gineteia a galharia

Num corcove redomão

Enquanto se abre o portão

E se fecha com a ventania

Um tropel de nuvens brancas

Emparelham carreiradas

Galopando em disparada

Num rumo de sul pra norte

Na busca da própria sorte

De uma estiada teatina

Se esvaiam em chuva fina

Com rajadas de vento forte

E tudo vai se aquietando

A espera da melhora

No fogo a lenha que chora

Faz coro ao chiar da chaleira

E uma coplita matreira

Num deboche à chuvarada

Vai soando ritimada

Contraponteando à goteira

Chora o alambrado da frente

Gotejando gotas finas

E o pastiçal que se inclina

Se ondula ao sopro do vento

Que galopa mato adentro

Varando o turvo da noite

Chicoteando num açoite

Com a intempérie do tempo

Nestes dias de chuvisco

Que a nostalgia se impera

Num rancho quase tapera

Um cenário instigante

O vento sopra uivante

De encontro à quincha entonada

Num gemer de alma penada

Num sonido arrepiante.

É meados de agosto

Tempo de chuva guasqueada

Destas de correr deitada

Molhando a cara da gente

A água escorre inclemente

Pelo talo do pescoço

Encharcando até o osso

Quando se pega de frente

Em dia de chuvisqueiro

A cuscada se ressente

Lá fora qualquer vivente

Que se encontre ao relento

Neste dia aguacento

Só vai estar abrigado

Quando enfrentar emponchado

Uma garoa com vento

Cesar Tomazzini
Enviado por Cesar Tomazzini em 01/08/2011
Código do texto: T3132906
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