OS BARCOS ( LÍRICA BANDEIRIANA)

A Poesia mais Moderna na sua ânsia de pureza

quase asséptica, tentou enxugar a Emoção. Quan-

do dela sinto falta, recorro a Bandeira. E assim me

sinto mais humano.Menos "programado" e sujeito a

Ilusões.

E , assim, me saem alguns Poemas mais emocio-

nados :como este...

Barcos vogando no ar adormecido

Quisera ser como vós, despreocupados...

Beberam o rio todinho

E êi-los livres, contentes, sem pressa;

É o que somente querem, água e vento :

Nem preocupação, nem sol, nem firmamento!...

Que me levasse o rio

E eu, nele,

teria tão somente o vou por ir;

Alumbramentos ficaram com o dia,

E agora é noite,

É o úmido deixar-se

Fluir.

E em verter pelos caminhos

Mágoas, penas, cinzas

E em vasculhar pelos velhos apetrechos

Ais meus,

Nisto sou prisioneiro do medo e da dúvida...

Nisto me acorrento à margem fixa...

Amar a solidão é ser um barco.

Inaceitável e linda amargura !...

A dor mantém-se acordada

Quero ser um barco, um barco

Um barco balançando

Sem chegada, nem porto, nem partida.

Desde a noite chegada 'tou sozinho.

E a tosse me sofreu como uma ausência.

As formigas negaram-me alimento

Por que me dariam, a mim, as formigas

A compreensão da paz e do alimento ?!...

Barcos vogando no ar anoitecido

Anoiteci eu também, barcos queridos...

Mas não me resignei,

Conservei o vício do queixume :

Como vós não fui,

Inaceitei !

Trê rios pudesse beberia;

Preces faria de candor quase sem jeito !

É impossível sorrir...

É impossível,

Ó ceu azul !

Se foi que o Sol

Em dentro em mim

Adormeceu...

Jorge Sunny
Enviado por Jorge Sunny em 13/07/2011
Código do texto: T3092803