OS BARCOS ( LÍRICA BANDEIRIANA)
A Poesia mais Moderna na sua ânsia de pureza
quase asséptica, tentou enxugar a Emoção. Quan-
do dela sinto falta, recorro a Bandeira. E assim me
sinto mais humano.Menos "programado" e sujeito a
Ilusões.
E , assim, me saem alguns Poemas mais emocio-
nados :como este...
Barcos vogando no ar adormecido
Quisera ser como vós, despreocupados...
Beberam o rio todinho
E êi-los livres, contentes, sem pressa;
É o que somente querem, água e vento :
Nem preocupação, nem sol, nem firmamento!...
Que me levasse o rio
E eu, nele,
teria tão somente o vou por ir;
Alumbramentos ficaram com o dia,
E agora é noite,
É o úmido deixar-se
Fluir.
E em verter pelos caminhos
Mágoas, penas, cinzas
E em vasculhar pelos velhos apetrechos
Ais meus,
Nisto sou prisioneiro do medo e da dúvida...
Nisto me acorrento à margem fixa...
Amar a solidão é ser um barco.
Inaceitável e linda amargura !...
A dor mantém-se acordada
Quero ser um barco, um barco
Um barco balançando
Sem chegada, nem porto, nem partida.
Desde a noite chegada 'tou sozinho.
E a tosse me sofreu como uma ausência.
As formigas negaram-me alimento
Por que me dariam, a mim, as formigas
A compreensão da paz e do alimento ?!...
Barcos vogando no ar anoitecido
Anoiteci eu também, barcos queridos...
Mas não me resignei,
Conservei o vício do queixume :
Como vós não fui,
Inaceitei !
Trê rios pudesse beberia;
Preces faria de candor quase sem jeito !
É impossível sorrir...
É impossível,
Ó ceu azul !
Se foi que o Sol
Em dentro em mim
Adormeceu...