DEVANEIO

Quando o horizonte limpido

se emponchou de nuvens,

matizando o céu,

refletindo sóis por imagens suas,

desencilhei o pingo, o larguei ao campo

e fui pro rancho, matear solito.

O fim do dia repontou a lua

e a noite prateada ainda mais xirua

foi palco de sonhos e pensamentos vagos...

Recordei andanças

e criei bonanças num futuro meu.

Divaguei nos campos do meu faz de conta.

A fauna campeira que me faz costado

a cada final de dia ou alvorada

gorgeou carinhos ao meu devaneio.

Lembrei da chinoca de louros compridos

que há muito eu queria tê-la por minha...

De labios corados e pele macia

que eu por não ter coragem

só em sonhos a tinha.

Pensei no meu rancho repleto de piás

crescendo na lida pra domar os potros

quando eu não mais puder.

Pra erguerem seus ranchos na volta do meu,

porém conclui:

os filhos que crescem abandonam o ninho

e traçam caminhos em rumos só seus.

O ronco do mate,

da cuia vazia me pôs em alerta.

É fácil em sonhos criar universos

e tão adversos dos nossos reais.

Difícil é ter nos dias singelos

um mundo harmônico

de encantos e paz...

A água bateu na quincha do rancho,

um raio de luz, a seguir um trovão.

O tempo mudou, sequer eu notei.

Eu tão submerso nos meus oensamentos

não senti o frescor e o rumo do ventos.

Secou a chaleira.

A erva lavou.

O tempo estiou.

As brasas do fogo cobertas de cinza.

A mim mais um dia na tarca da vida

e a noite é comprida, pra um só que mateou.

(Gravado no CD da 1ª Sesmaria da Poesia Gaúcha)

PAULO DE FREITAS MENDONÇA
Enviado por PAULO DE FREITAS MENDONÇA em 18/05/2011
Reeditado em 23/07/2011
Código do texto: T2978030