DEVANEIO
Quando o horizonte limpido
se emponchou de nuvens,
matizando o céu,
refletindo sóis por imagens suas,
desencilhei o pingo, o larguei ao campo
e fui pro rancho, matear solito.
O fim do dia repontou a lua
e a noite prateada ainda mais xirua
foi palco de sonhos e pensamentos vagos...
Recordei andanças
e criei bonanças num futuro meu.
Divaguei nos campos do meu faz de conta.
A fauna campeira que me faz costado
a cada final de dia ou alvorada
gorgeou carinhos ao meu devaneio.
Lembrei da chinoca de louros compridos
que há muito eu queria tê-la por minha...
De labios corados e pele macia
que eu por não ter coragem
só em sonhos a tinha.
Pensei no meu rancho repleto de piás
crescendo na lida pra domar os potros
quando eu não mais puder.
Pra erguerem seus ranchos na volta do meu,
porém conclui:
os filhos que crescem abandonam o ninho
e traçam caminhos em rumos só seus.
O ronco do mate,
da cuia vazia me pôs em alerta.
É fácil em sonhos criar universos
e tão adversos dos nossos reais.
Difícil é ter nos dias singelos
um mundo harmônico
de encantos e paz...
A água bateu na quincha do rancho,
um raio de luz, a seguir um trovão.
O tempo mudou, sequer eu notei.
Eu tão submerso nos meus oensamentos
não senti o frescor e o rumo do ventos.
Secou a chaleira.
A erva lavou.
O tempo estiou.
As brasas do fogo cobertas de cinza.
A mim mais um dia na tarca da vida
e a noite é comprida, pra um só que mateou.
(Gravado no CD da 1ª Sesmaria da Poesia Gaúcha)