E o tempo levou... NÃO TEM MAIS

O tempo levou consigo os costumes que encontrei

Quando na terra cheguei

E de tudo que vislumbrei

Fui procurar, não achei.

Não tem mais as cantorias

Nem as noites de novena

Nem a canjica coada

Nas peneiras de arupema.

Não tem mais

A brilhantina Zezé

No alpendre o cafuné

Nem o pano velho preto

Que se coava o café.

Não tem mais

As brincadeiras

Nas calçadas, no quintal

Nem as velhas fofoqueiras

Na calçada, a falar mal

Não tem recados mandados

Nem os encontros marcados

Hoje é tudo virtual.

Não tem mais

O caboco cabuloso

Caipora

Alma penada

Nem história de trancoso

Não tem mais

A vassourona de raízes

Que se varria o terreiro

Nem aquele pote grande

Com a água do barreiro

Nem o cuscuz feito em prato

Nem a luz do candeeiro,

Não tem mais

Moças velhas rezadeiras

Viúvas, luto fechado

Nem choro de carpideira

Nem velório feito em casa

Acham coisa beradeira.

Não tem mais

O queijo feito no tacho

Garajau de rapadura

Sebo de bezerro macho

Tirna de fogão á lenha

Hoje procuro e não acho.

Não tem mais

O radiozão que chiava

Em cima de uma banca

Com as reza que passava

Ali, na hora do anjo

Aquilo me emocionava

Não tem mais

O grande dia da feira

O caminhão pau de arara

Café na banca, chaleira

Bolo preto, tapioca

Carne de sol na esteira.

Não tem mais

Mulher vestida de chita

Ou deitada de resguardo

Pra gente fazer visita

Essas coisa, hoje em dia

Já são tudo esquisita.

Não tem mais

Banho de bica no oitão

Da meninada contente

Com relâmpago e trovão

Era a maior alegria

Que se via no sertão.

Não tem mais

A costureira afamada

Nem os assobios altos

Que enchiam a madrugada

Dados pela caipora

Que era malassombrada.

Não tem mais

Prato de ágata branca

Bacia velha de frande

E nem feijão de arranca

Não tem mais

A véia catimbozeira

Os moleque azougado

Brincando de baladeira

Correndo de rolimã

Descendo pelas ladeira.

Não tem mais

As doença que havia

Quebranto, ventre caído

Ramo, estupor, trevalia

A espinhela caída

Mau olhado e milacria.

Não tem mais

Grupo escolar

Tênis conga

O mingau de merendar

Feito com leite e goma

Nem cartilha de ABC

Que depois dava diploma.

O tempo levou

Não tem mais

Nem pra moça

Nem pra velha

Nem pro homem

Ou o rapaz

Nem pra mim

Nem pra você

Quem quiser

Diga seus ais!

Thomas Saldanha
Enviado por Thomas Saldanha em 18/05/2011
Código do texto: T2977143
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