Galpão assombrado
Na bailanta me apeio
no meio da confusão.
Só ouço o tiroteio
e o balanço do vaneirão.
O meu facão me coça,
no meu pingo corcoveio.
Apanhar que nem boi na roça
eu acho muito feio.
De peleia que me importa...
Com sangue de gaúcho na veia
bebo e fecho a porta
enquanto tiver garrafa cheia.
Já um índio num retoço
com palavrão de bagunça,
de lenço branco no pescoço
era o mais pinguça.
De touro não tenho medo,
dei-lhe um talho no pescoço.
Alvorota-se o chinaredo,
cortei o papo de dois caroço.
Um outro de olhar feio
Já se meteu comigo,
daqueles que atoro no meio
e destorço o umbigo.
Outro com o pala rasgado
eu prendi-lhe o grito,
parecia que tinha apartado
uma briga de cabrito.
Não sou da primeira fervura,
na bailanta eu relincho.
Desaforo não se atura,
Sou galo, não sou cochincho.
E a velha gaita embala
num vaneirão pacholento.
As paredes furadas de bala
fazendo acompanhamento.
Aquele lugar ficou assombrado,
uma assombração aparece.
De noite é barulho no telhado,
da bailanta ninguém esquece.
Minha china nunca mais vi,
não sei se peleando continua.
Quem sabe se anda por aí
na sanga se baiando com a luz da lua.