Galpão assombrado

Na bailanta me apeio

no meio da confusão.

Só ouço o tiroteio

e o balanço do vaneirão.

O meu facão me coça,

no meu pingo corcoveio.

Apanhar que nem boi na roça

eu acho muito feio.

De peleia que me importa...

Com sangue de gaúcho na veia

bebo e fecho a porta

enquanto tiver garrafa cheia.

Já um índio num retoço

com palavrão de bagunça,

de lenço branco no pescoço

era o mais pinguça.

De touro não tenho medo,

dei-lhe um talho no pescoço.

Alvorota-se o chinaredo,

cortei o papo de dois caroço.

Um outro de olhar feio

Já se meteu comigo,

daqueles que atoro no meio

e destorço o umbigo.

Outro com o pala rasgado

eu prendi-lhe o grito,

parecia que tinha apartado

uma briga de cabrito.

Não sou da primeira fervura,

na bailanta eu relincho.

Desaforo não se atura,

Sou galo, não sou cochincho.

E a velha gaita embala

num vaneirão pacholento.

As paredes furadas de bala

fazendo acompanhamento.

Aquele lugar ficou assombrado,

uma assombração aparece.

De noite é barulho no telhado,

da bailanta ninguém esquece.

Minha china nunca mais vi,

não sei se peleando continua.

Quem sabe se anda por aí

na sanga se baiando com a luz da lua.

Helmuth da Rocha
Enviado por Helmuth da Rocha em 15/02/2011
Código do texto: T2793070