O meu potro Ilusão!

Olhando as quimeras e taperas, me deparo pensando no amanhã de um pobre peão de estância. Botas eram luxo, ele não tinha, bombachas de riscado, na verdade riscadas pelas tropilhas domadas. Tropas de perder de vista na imensidão do pampa gaúcho. Meses, intermináveis dias de uma eterna “ronda de tropa”.

Naqueles tempos as intempéries é que ditavam o ritmo de caminhada das tropas ao seu destino final.

Mas e o peão aonde anda?

Talvez por falta de lida ou por tropear o gado alheio

partiu com desilusão para engrossar as periferias das cidades.

O tropeiro virou tropa e se confunde na multidão.

Na cidade virou alguém: João, Pedro, Antonio.

De próprio, nem o nome. E, o sobrenome já esqueceu.

Dos cavalos que domava somente recordação,

o antes peão, hoje é o cavalo a carregar suas mágoas.

Do alazão, só saudades... Porque a vida na cidade virou potro Ilusão.

Eu procuro e não encontro uma justa explicação,

enquanto uns tem de tudo, outros brigam por migalhas, na esperança do amanhã.

Que amanhã, que esperança...

e, a vida desde criança é “debaixo do mau tempo”.

A alegria é um lamento do meu potro Ilusão.

Ilusão me alumia, me mostre o caminho da luz,

nos caminhos desta vida, todos somos aprendiz.

Uns aprendem bem depressa, outros nunca aprenderão.

Vou levar minhas tropilhas, para vagar por este mundo.

Hoje aqui, amanhã acolá. Para comer só migalhas,

para dormir eu acho palhas e para viver desatinos.

Me lembro quando menino, pés descalço, geada fria,

mas pra comer a gente tinha, vivia com alegria.

E, hoje nesta noite fria, meu potro... nem mesmo nos sonhos.

Quando penso me envergonho, ter de pedir pra comer...

Assim o peão desatino, vai seguindo o seu destino, montado no potro Ilusão.