Campeireando ilusões
CAMPEIREANDO ILUSÕES
O ontem rebrota na seiva do mate
E o jujo desperta ternas lembranças
Que estropiadas nas duras andanças
Se enredaram nos fios do alambrado;
E o destino, tordilho aporreado,
Rompeu a presilha do laço de embira,
Levou o encanto que na infância existira,
E lendas e mitos foram tosados.
Não mais flamejam as velas “prendidas”,
Esperando reaver o extraviado;
Da tropilha, o corcel desgarrado,
Vai liberto lonqueando a coxilha;
O haragano vagueia, sem encilha
E o açoite do mango não o arrucina:
São meus sonhos, perdidos na neblina
À procura de rastos nas flechilhas.
Ao negrinho, melhor sorte não coube
Que relhaços, prostrando-o, combalido;
Inda assim, o escarmento ensandecido
Não saciou a maldade ao fazendeiro:
Seminu, foi exposto a um formigueiro,
Entretanto, frente à crueza tanta
Sua madrinha, Maria, a virgem santa,
Libertou-o dos grilhões do cativeiro.
Lentamente, a carreta segue a trilha:
Boitatá não passou na encruzilhada;
E gemidos, talvez de almas penadas,
Silenciaram pra sempre nos celeiros;
Foi-se o sestro, alardeado nos braseiros,
De taperas, povoadas de fantasmas,
E a emanação luzente dos miasmas
Mais parece um pampeano candeeiro.
Co’a erva lavada, desfaz-se o topete:
Não basta a encilha, pois logo esmorece;
E o piazito que em mim permanece
Inda guarda maternais acalantos;
Das crendices, a magia, no entanto,
Aninhou-se num pelego sovado,
Então percebo no mate enfrenado
Que a vida sem sonhos perde o encanto.
do livro a ser publicado "Cantos ao entardecer"