Campeireando ilusões

CAMPEIREANDO ILUSÕES

O ontem rebrota na seiva do mate

E o jujo desperta ternas lembranças

Que estropiadas nas duras andanças

Se enredaram nos fios do alambrado;

E o destino, tordilho aporreado,

Rompeu a presilha do laço de embira,

Levou o encanto que na infância existira,

E lendas e mitos foram tosados.

Não mais flamejam as velas “prendidas”,

Esperando reaver o extraviado;

Da tropilha, o corcel desgarrado,

Vai liberto lonqueando a coxilha;

O haragano vagueia, sem encilha

E o açoite do mango não o arrucina:

São meus sonhos, perdidos na neblina

À procura de rastos nas flechilhas.

Ao negrinho, melhor sorte não coube

Que relhaços, prostrando-o, combalido;

Inda assim, o escarmento ensandecido

Não saciou a maldade ao fazendeiro:

Seminu, foi exposto a um formigueiro,

Entretanto, frente à crueza tanta

Sua madrinha, Maria, a virgem santa,

Libertou-o dos grilhões do cativeiro.

Lentamente, a carreta segue a trilha:

Boitatá não passou na encruzilhada;

E gemidos, talvez de almas penadas,

Silenciaram pra sempre nos celeiros;

Foi-se o sestro, alardeado nos braseiros,

De taperas, povoadas de fantasmas,

E a emanação luzente dos miasmas

Mais parece um pampeano candeeiro.

Co’a erva lavada, desfaz-se o topete:

Não basta a encilha, pois logo esmorece;

E o piazito que em mim permanece

Inda guarda maternais acalantos;

Das crendices, a magia, no entanto,

Aninhou-se num pelego sovado,

Então percebo no mate enfrenado

Que a vida sem sonhos perde o encanto.

do livro a ser publicado "Cantos ao entardecer"

Jorge Moraes
Enviado por Jorge Moraes em 29/10/2010
Reeditado em 01/11/2010
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