Décima ao poeta e pajador
Galopam meus sentimentos
num tropear de lembranças
Percorro e faço andanças
na estrada do pensamento
bombeio pra o firmamento
no acender do luzeiro
ao sul enxergo o cruzeiro
e a cheia, com imponência,
me faz prestar reverência
ao “Pajador Missioneiro”
Da timbaúva, um galho,
na velha São Luis Gonzaga
História que se propaga
num caminho sem atalho
O talento, um agasalho
que aqueceu a pele nua
com a alma de um charrua
lanceiro, pronto pra guerra,
foi amante da sua terra
e namorado da lua
Era um trinta de janeiro
e vinte e quatro era o ano
A dona Euclides Caetano
paria ali um herdeiro
Gaúcho sul brasileiro
com batismo num galpão
e honrando a tradição
da terra santa - missões,
cresceu seguindo as lições
que ouvira do pai João
Galo de Rinha, valente,
no tambor do gauchismo
Demonstrava o atavismo
do povo de sangue quente
De sepé um descendente,
poeta de fibra e valor
Remorsos de Castrador
pelas Paisagens Perdidas,
ou num Bochincho da vida
campeando lidas de amor
A existência, um cartear
no verso, sempre de mão
Pra vida não foi chambão
e incapaz de se achicar
e, se preciso, blefar
ao ver a coisa empardada
topando qualquer parada
taura, astuto e atrevido
num grito de falta envido
peitava a calaverada
Bigodudo, com melena
e lenço atado ao pescoço
Com a alma em alvoroço
no rosetear da chilena,
não tinha idéia pequena
na hora de improvisar
usava de um linguajar
regional e galponeiro
dentre todos, o primeiro
n'arte fina de pajar
Talvez num Galpão de Estância
de um Brasil Grande do Sul
Debaixo de um céu azul
galderiou na sua infância
e pra encurtar distâncias
foi De fogão em fogão,
calçou Bota de Garrão
lá no Potreiro dos Guachos
montando lombo dos machos
de tento firme na mão
Resta o registro escrito
de uma obra "muy" bela
Do difusor da espinela
décima - verso bonito
De Dom Vicente, bendito,
um discípulo se fez
demonstrando a altivez
dos filhos de uma terra
que foi pátria numa guerra
com valentia e honradez
Porque a tertúlia dos dias
um dia chega ao final
Num golpe duro e brutal
como as fortes invernias
Deixando trilhas vazias
d’onde passaram pampeanos,
pelos duros, castelhanos,
gaúchos - cepa caudilha
que conquistaram coxilhas
por nascerem araganos
Poema e melancolia
no canto de um urutau
É Jayme Caetano Braun
que pro céu se foi “a la cria”
Com um mate de alegria
chapéu, bota e tirador
recebeu-lhe o Criador
divina hospitalidade,
pra o rancho da eternidade
o poeta e pajador.