Prenuncios de um romance primaveril
... A um trote mui lento
tranqueia a vida véia...
Sestrosa como só ela...
Ressabiada por laçasos
que seu ginete, o tempo,
insiste em lhe aplicar.
Como se a tropeada dos dias
fosse rumo ao seu fim.
Como se dentro de mim,
secasse a vertente dos sonhos,
transformando esse gaúcho
num ser de pedra dura e fria.
Por onde anda a alegria daquele moço
que quinchou de amor um rancho
no alto da coxilha do seu coração.
Que madrugou na ilusão,
mateou pensamentos,
compartilhou sentimentos.
Pois se aquele viver a dois
que era o motivo de tudo,
de repente, num golpe duro e sisudo,
passou a ser a razão de nada.
Só restando a geada, o inverno
e alma mergulhada numa triste insignificância.
Tendo como maior companheira a solidão.
...a um trote mui lento
tranqueia a vida véia...
...está findando o agosto...
...sinto o vento beijar meu rosto...
Prenunciando vida nova
num setembro que vem de mãos dadas
com a bela estação.
Que nos seus ares aquecidos
faz com que brotem os campos,
desabrochem as flores, alisem os pelos,
renasça o verde.
Renascendo, também, as esperanças
de um coração que teima em se apaixonar.
Que quer prosseguir.
Que vem trançando um laço
com oito tentos de carinho
e doze braças de amor,
para apresilha-lo ao sinchador
do flete da sua paixão...
...pra cavalgar na emoção...
E rebanhar ao potreiro do seu peito,
num tiro suave de sobre-lombo,
aquilo que está lhe faltando.
A simples vontade de viver.
Viver as coisas boas,
viver as conquistas,
viver o doce sabor do amargo
de um mate a dois.
Viver um romance primaveril.
Daqueles que nos trazem,
novamente, o calor de uma relação.
Que nos fazem sorrir a toa.
Que atropelem de vez a tristeza,
fiel parceira de um catre
que parece feito de espinhos.
Nas singelas trocas de carinhos,
nos beijos, abraços e olhares sinceros
de quem veio pra ficar.
Ficar para sempre.
Arrinconando-se de vez a uma morada,
que então, não mais tapera,
ressurgirá igual a primavera
com todo seu esplendor.
Dizendo com o peito
inundado de amor...
“... na batida dos corações,
tranqueia a vida véia...”