MEU POEMA XUCRO
Quando a vida corcoveia,
Rédeas frouxas caem da mão,
Toda monta vai ao chão,
Não há laço que a boleia.
Vi passar o meu cavalo
Encilhado pra viagem,
Desprezei sua passagem
Por temer mais um pealo.
Tanto tempo eu vivi,
Pé no estribo, pé no chão,
E por essa indecisão
Minha aposta eu perdi.
A cancha reta da vida
É mais dura que parece,
E jamais se compadece
Duma aposta esquecida.
Não aponta o ganhador
Numa aposta dividida,
Mas no meio da corrida
Já conhece o perdedor.
Não se aposta em favorito
Se a corrida está marcada,
Toda prova é mal atada
Se for feita só “no grito”.
Antes chega ao fim da linha,
Quem mais queima a baliza,
Ganha mais quem não precisa
Perde mais quem nada tinha.
Na cancha reta da vida
Todo o amor corre em placé
Nunca espere que você
Seja a aposta preferida.
Perder por uma cabeça;
Nunca a cabeça perder!
E quando o outro vencer
Pague a aposta e se esqueça...
De sua doma, se ele é,
Ou se pelo trato veio,
Sempre que usar o freio
Antes faça um cafuné.
Troca o feno, limpa o cocho,
Alisa a anca, põe a cela,
Monta com muita cautela
Depois siga leve e frouxo.
Pode até mudar de cancha;
Serão mesmas as peleias!
E as guaiacas sempre cheias,
Pra bancar sua pinguancha.
Eu já fui um perdedor
Pelas canchas que passei,
Porque sempre o que apostei
A moeda era o amor.
Meus valores e caprichos
Não comportam nas guaiacas,
Nunca usei minhas patacas
Para atar os meus cambichos.
Sei que lá no fim da cancha
Alguém há de precaver:
Toda aposta em bem-querer
Num estalo se desmancha.
É, em minha sentinela,
Uma coisa eu conclui:
Nas apostas que perdi,
Tive excesso de cautela.
Se de volta ele passasse
Mesmo em pelo eu montaria,
E feliz cavalgaria
Onde ele me levasse...