Carreta do destino
Lentamente, o pala do crepúsculo
Veste de cobre a pampa verdejante;
Pelas frinchas penetra sibilante
Um lamento na voz do Minuano,
E a lua cheia, num trote soberano,
Vai repontando estrelas andarilhas:
Sentinelas do pago farroupilha,
Argentinas esporas do paisano.
A tisnada cambona fumaceia,
Silenciando o porongo rouquejante,
E a saudade rebrota num instante
Gineteando a fumaça de um palheiro;
Aninhado na volta do braseiro
Dorme um cusco de pelo indefinido,
E a panela de casco já encardido,
Bafejante, requenta o carreteiro.
Sobre a mesa cochila a lamparina,
E o cansaço emponchou-se nos pelegos;
Envolvido nos braços do sossego
Dorme um rancho de pilchas campesinas,
Que plantado no topo da colina,
Com a quincha roçando o firmamento,
Mais parece, em seu rude acabamento,
Um bueiro, unindo plagas divinas.
Os recuerdos cavalgam na garupa,
Atrelados ao flete da esperança,
E soluça a guitarra das lembranças,
Inundando a cacimba das paixões.
Falquejando no cerne de emoções,
Segue a passo a carreta do destino
Cabreteando amores teatinos
Pro sagrado rodeio de ilusões.
Jorge Moraes - Livro: Acalantos