FILOSOFIA DO MATE
JORGE LIMA
Parceiro, te alcanço o mate
Erva crioula e das buena
A cuia de cor morena
Com bomba de pura prata
E a seiva verde em cascata
Cevada com muito jeito
Invade o corpo e a alma
Enchendo o vazio do peito.
Parceiro, tu não te amole
Com alguma brincadeira
Era coisa costumeira
Dos nossos tempos de infância
Se a vida semeou distância
Indo um pra cada lado
Pra botar a prosa em dia
Mateio no teu costado.
Se o mate ficou apertado
Da uma torcida na bomba
Parceiro, vamos pra sombra
Sentar num cepo de angico
Porque a vida xô-mico
É estrada desconhecida
Que as vezes amarga o mate
Mas é preciso ser vivida.
Parceiro, hoje o tempo é outro
Modificou-se a querência
E a tropilha da existência
Domada na juventude
Maltratam este peito rude
Com tanta recordação
Fazendo escassear o tempo
Pra tomar um chimarrão.
Parceiro, não tenha pressa
Não adianta andar ligeiro
O tempo que é caborteiro
Nos ilude e faz pensar
E sem sair do lugar
Vive fazendo trapaça
Porque sabe que ele é eterno
A nossa vida é que passa.
Faça o que eu digo parceiro
Tenteie o mate com calma
A seiva que invade a alma
Feita de folha madura
Traz vertentes de água pura
Na xucra e verde infusão
E faz o tempo teatino
Parar na palma da mão.
Parceiro, tome mais um
Antes que esfrie a chaleira
Porque a vida candongueira
Às vezes num solavanco
Arrebenta o pé do banco
E num pialo vamos pro chão
Só fica a cuia e a bomba
Pra algum outro chimarrão.