O rancho da vida
Barreado e de pau-a-pique,
Cobertura de capim;
Há um rancho que vive em mim
Que um dia já foi morada:
Cumeeira bem quinchada,
Enfrentava sem temor
Do Minuano o rigor,
Pois havia nos pelegos
Ternos braços pro sossego
E uma ponchada de amor.
Barreado e de pau-a-pique,
Cobertura entordilhada;
Aquerenciou-se a geada,
Tornou-se cinza o braseiro;
Só o silêncio é o parceiro,
E curvaram-se os moirões,
Mermeram-se as ilusões
Com a chegada do outono
E os pelegos no abandono
Guardam só recordações.
Barreado e de pau-a-pique,
Cobertura de esperanças,
Fiz da saudade uma trança,
Dos sonhos, uma roseira,
Que há de florir sobranceira
Num coração que assevera
Que um rancho mesmo tapera
Renascerá com vigor,
Pois onde existir o amor
Sempre será primavera.
Jorge Moraes - livro: Quando os sonhos ganham asas