Coplas de quem mateia solito.

COPLAS DE QUEM MATEIA SOLITO.

DiogodeBagé/Lua nova de setembro/93

Madrugada de domingo,

Quieto, cá no meu “cepo”,

No silencio do galpão,

Mirando a dança do fogo,

Meu mate, sorvo, solito,

Remoendo a solidão,

A cuia, seio moreno,

Mexe com sentimentos,

Ao toque de minha mão.

E uma saudade redomona,

No mate pega carona,

Esporeando o coração.

Na quietude da noite,

Assim, no meio do nada,

Como n’um toque de clarim,

Um galo se põe a cantar,

Anuncia, novo dia vai chegar,

É que a noite, anda pr’o fim.

Lá pra banda do oriente,

Empeça à raiar o dia.

O sol s’achega de roldão,

Empurrando a noite pro poente,

Quando as estrelas cadentes,

Se somem co’a escuridão.

Reina no céu, a boieira,

Feito dama da noite,

Com pealos de sedução

E malicia no olhar,

Pra derrubar potro guapo,

Maneando no coração.

Pois, a china que tanto amo,

Busca na estrela inspiração,

Depois que a sede de amor

Enfim, por nós, é saciada.

Ali, entre quatro paredes,

Andeja, nua e sem pudor.

Depois, no leito de amor,

Em meus braços, aninhada,

No aconchego, sem recatos,

Satisfeitas, nossas ânsias,

Peito a peito, corpo a corpo,

Sós, nós dois, acolherados.

Oigalê! Saudade durona,

Chega a doer o coração,

Que me faz até parar.

No fogo ajeito os “tição”,

Porque, bueno, tá na hora,

De nova lida empeçar.

Vou calçando as botas

E dando de mão no “buçal”,

Me largo na madrugada,

Vou em busca do sogueiro,

É domingo, folga o caseiro,

Me tocou a casereada.

Com o pensamento na amada,

Abichornado, “despacito,”

Meu coração, devagarinho,

O compasso vai marcando,

D’uma “coplita” gaudéria,

De assobiar, assim, sozinho...