Meu galpão interior

Meu galpão interior

O mate da madrugada,

“juntito” ao fogo de chão

Escancara meu galpão,

As ânsias guardadas.

É sangria desatada,

Que no portão se derrama,

Um coração se inflama,

Quando no céu brota luz,

Na imagem que seduz,

Da pampa rude que chama.

A sombra escura do cerro,

Aos poucos vai clareando,

Parece se desnudando,

De noiva em seu esmero,

Que se entrega por inteiro,

Ao noivo, seu doce amado

E um índio só, largado,

Mateando olha pra dentro,

Afogando sentimentos,

De quem, vive desgarrado...

O cheiro da terra molhada,

Na madrugada chuvosa,

Meio que mexe, alvoroça

E incertezas guardadas,

Trazem numa palateada,

A um coração com anseios,

Que sem conhecer costeio

E que nunca foi maneado,

Se larga abagualado,

Esparramando os arreios...

S’acalma... Num gole de mate,

Doce amargo sorvido,

“Y cosas que son olvido”,

Ecoam, no cusco que late,

Numa ventana que bate,

No vento mexendo o sovéu,

Das cadentes em escarcéu,

Se “planchando” na escuridão,

Pra quem vive a solidão,

Feito “boieira” no céu...