Inventário de um gaúcho
Vida longa ,filhos e patroa,
guaipeca, trago de canha boa.
Tudo tive e nada levo,
sou taura e não me entrego!
Deixo raça e sangue puro, da família eu me orgulho,
escrito aqui está.
A estância fica pros dois.
Da trempe ao carro de bois,
lá das bandas do Igaí.
Uma gaita de oito baixo, o lenço vermelho
e a guaiaca, acham que não compensa,
Pois está surrada das lidas.
Pra minha filha querida que também é bem querer,
o que restou desta vida foi a máquina de escrever,
o livro - “Queres ler” - eu deixo pro meu piá,
pra aprender tudo da vida!
De tudo que utilizei e por isto me apeguei
não quero que se desfaçam:
Da caneta esferográfica e o anzol de estimação, o de pescar lá na sanga,
O carrinho de pedreiro e a enxada duas caras,
O par de foices antigas que não fugia da guerra,
do nosso pedaço de terra, o carro de bois e das cangas.
Espero que não se zanguem com o toco de lápis guardado,
dos bilhetes rabiscados pra minha china querida.
O que levo desta querência é o cheiro do meu café e deixo pra quem quiser:
um apontador de gillete e o meu velho ofertório.
Só espero que dê tempo pra levantamento em cartório!!!!!!!!!!