Último Poema

Último Poema

Da morte, por que ter medo?

Terei apenas saudades

de alguns amigos que fiz,

de alguns dias que não vivi,

da viola e do luar

e dos meus sonhos pueris,

do agreste e do verde mar.

Também levarei saudades

de cada esquina da vida,

do papo molhado da noite,

das noites não dormidas;

das perguntas de toda sorte

nem sempre respondidas.

Por que temer a morte,

se morte também é vida

e sempre estão de mãos dadas,

nos becos, estradas, avenidas.

Da morte não terei medo,

mas sim, saudades da vida,

que, se porventura não vivida,

lamentarei ter de ir cedo.

Mas restará a eternidade

e atribuirei à fatalidade

se não mais puder ficar.

Quem sabe a felicidade

não mora do lado de lá?

Pra resumir o assunto,

apenas levarei saudade,

da vida, se não viver muito.

Sorverei minha última hora

com a mesma serenidade

deste minuto de agora,

pois tudo valerá a pena,

se encararmos com a naturalidade

sem medo e com a serenidade

deste meu último poema!