"ÍNDIO GALO"

Batizado... Galo índio...
Pro azar, do galináceo!
Por certo... Muito mais macho...
Do que quem gosta de rinha.

O filho, de uma galinha...
É habitante do terreiro...
Cujo dono interesseiro...
Sem consciência... E covarde!
O põe pelear... De cedo à tarde...
Sem ter culpa do entrevero.

Depenam, pra ficar duro...
E suportar... Golpes de pua!
Assim vives; de alma nua...
Ao bel prazer do seu dono!

Que até de dormir te priva...
Raramente dorme um pouco!
A dor te impede... ter sono
Pois sua pele... é carne viva!

E quando quebra uma espora...
Logo calçam uma de aço
Num intento carniceiro!
Mesmo estando, só o bagaço...
Te jogam, de novo dentro!
Pra morrer... No picadeiro...
Zarolho, pelos puaços!

Do inocente, companheiro...
Tu é empurrado pra cima!
Se ganha, recebe aplausos...
Que não são... Prova de estima!
Só por amor ao dinheiro
Tal como... Um verso sem rima!

Se fica cego... Te matam!
Como num gesto... "piedoso"?
De alguma, pobre franguinha...
Ninguém quer saber Se é esposo!
E... Raramente, te sepultam.
Na panela, da cozinha...
Teu final... "destino honroso"...

E não se dão... Por satisfeitos...
Se você ganha a peleja!
Fazem... Que obrigado seja...
Matar  teu... “adversário"!
E se vão dali... Com um rosário...
Pra se ajoelhar... Numa igreja!

Enquanto tu arrematas...
A briga que foi atada!
A choca velha, preocupada...
Pros teus irmãos, dá carinho!
Sem contar... Para os pintinhos,
a sina... Que lhes aguarda!

Decerto ela dá conselhos...?
Pra se unirem vida a fora!
Mas... Mal sabe essa senhora...
Não é o que está preparado!

Por alguém, coração roto...
Que na casa grande mora!
Das cifras... Apaixonado...
Prega a paz, em altos brados...
E te faz morrer, tramando espora!

Por isso... Ao galo de rinha...
Eu digo, e tenho certeza!
Só algum filho de puteiro...
Infeliz, que não tem causa!
Vendo-o morrer, num rinheiro...
Consegue enxergar beleza!

Em meu terreiro, tu és livre!...
Desde sempre... E não de agora!
Pra ser rei do galinheiro...
E anunciar... Romper a aurora.
Ninguém!!! Arranca tuas penas!
E cai de velha... A tua espora!

Pra homenagear a tua raça...
Vou gritar!... Índio desnudo!
Não vestes... Finas bombachas...
Tua pilcha é um simples penacho!

Mas, melhor que estes... "viventes"!
Galo! Mui macho!... E sem luxo!
Pra mim... Tu és muito mais gente...
Que o maior, desses gauchos!


Cesar Liczbinski
Enviado por Cesar Liczbinski em 25/04/2009
Reeditado em 02/06/2011
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