"BAGUAL SEM DONO"


Sou filho de seberi...
Querência, o teu piá te invoca!
Perto de mim não se cria,
ciumentos, gangue, ou maloca!
Quando está na minha presença,
até cobra vira minhoca!
Macho; comigo é na bala;
nos braços, levo as chinocas!

 
Quando eu chego num rodeio,
e as prendas têm namorado,
durante as montarias,
faço meus versos rimados!
Já conto logo o meu jeito...
Não nasci pra ser casado!

 
Solteiras largam do par,
e os casais são separados!
No dia que eu vou embora...
Tem choro pra todo lado!

 
Nasci pra narrar rodeios...
De touro e também de potros!
Mas carrego a sina triste,
de roubar mulher dos outros!

 
Num rodeio, outro dia...
Achei no meio das feias...
Uma loura encantadora,
fui logo passando a peia!
Era mulher do delegado...
E eu fui parar na cadeia!

 
Em geral... Da tudo certo,
quando o corno é conformado!
Certa feita... Eu dei azar...
Num namoro fui flagrado!

 
Na maior das covardias...
Por uns dez, eu fui cercado!
O rodeio, no outro dia...
Fui narrar, todo quebrado!

 
Esta arranhou minha imagem...
Entrei no curral errado!
Vejam só a sacanagem...
Que um homem ta sujeitado!

 
Coisa mais linda do mundo...
Flor de tropa, o meu achado!
Tinha as formas mais perfeitas...
Que eu pudesse haver sonhado!

 
Fomos até jantar fora...
Num love apimentado!
Julgava eu, fosse inveja...
Ser tanto observado!

 
Na hora do vamos ver...
Quase acabei enfartado!
Levei a mão com prazer...
Saí qual gato, escaldado!

 
Tava sobrando umas peças...
Outras haviam faltado!
Foi aí que me dei conta...
Do bicho siliconado!

 
Levei a porta por diante...
Voei cerca e alambrado!
Arame farpado é barbante...
nessas horas, meu chegado!


A vida tem dessas...coisinhas!
Vai à chuva... Sai molhado!
Passei a noite inteirinha...
Beijando um “bixa” aloprado!!


Mas aprendi a lição...
E creio até haver lucrado!
Agora eu já meto a mão...
Pra ver o que tem guardado!
Ossos do oficio, de um peão...
E o pior, que elas têm gostado!

 
Não é fácil ser gostoso...
E ter o beijo melado!
Por isso, onde passo eu deixo,
muitos filhos abandonados!


Embora as vezes dê azar...
Faz parte do aprendizado!
Só paro de incomodar...
Se um dia for capado!
Só matando pra parar...
E eu não gosto do ditado!


 

Meu endereço é a arena,

sou fácil de ser achado!
Procurem-me, onde tiver...
Um rodeio abagualado!

 
Dificil... vou ressaltar...
Este bagual ser maneado!
Sou liso que nem jundiá,
e o ferrão sempre ta armado!

 
Bom pra tramar no facão...
Bato de relho, adoidado!
Na pontaria, atenção!...
Nunca perdi um tiro dado!
E a não ser... Do velho pai...
Jamais corri de um barbado!

 
Não tenham, temor de mim...
Vou deixar bem explicado!
Só costumo agir assim...
Quando sou ameaçado!
Com carinho, sou fascínio...
Na marra?... Envenenado!

 

Venha, quem quiser peitar;

brabo, ciumento, corneado!
Não esqueça de avisar...
Que partiu pra não voltar...
Ou talvez... Volte aleijado!

 
Geralmente... Eu não aleijo...
Judia dos outros é pecado!
Pra evitar constrangimento...
Já deixe o caixão comprado!

 
Mulher nova é todo dia;
confesso que sou enjoado!
Cercado pelas morenas...
Das loiras sou procurado!

 
E só me entrego pra carinho...
Quando estou apaixonado!
O problema é que estou sempre...
Eita! Peito deslumbrado!

 
Assim mesmo, nem por elas...
Eu nunca fui governado!
Gosto delas por que sei;
que amar é um dever sagrado!

 
A vida... Eu levo a contento!
Assim eu fui falquejado...
Amo a todas que me queiram;
se não chamar pra noivado!
Nem me fale em casamento...
Não quero sogra e cunhado!

 
Já perguntei ao “patrão”...
Se amar tanto é pecado?
A resposta ainda não veio...
Acho que estou condenado!

 
Até acredito... Índio velho;
estar pagando meus pecados!
E pra que de ti eu não me queixe...
Só peço que tu me deixes,
morrer por elas rodeado.
 


Cesar Liczbinski
Enviado por Cesar Liczbinski em 24/04/2009
Reeditado em 24/04/2009
Código do texto: T1557360
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