Tantos mates
Já tomei tantos mates por ai.
Uns com jujos na água ,
outros longos e entupidos.
Guardei prá sorver no meu
certos mates que sorvi na
vida.
Guardei o mate do meu pai!
Curto e quente cheios de
palavras e lições de campo
e vida.
No mate que vi minha alma.
Guardei o mate de minha mãe!
Frio e doce e as boieiras nos olhos
que miram o corredor.
Que se espicha longe
ao tranco, que o olhar
entendem há mirada.
Já sorvi mates em varandas,
salas e ao pé de árvores mirando
o campo.
Nos galpões também sorvi o
apojo das manhas.
E nas longas rondas da noite
grande mirando largo as,
estrelas na planura do céu.
Apreendi no mate tanto,
prás cosas da vida.
No mate de um ginete
que me ensinou a defender
o corpo sorrindo.
Mate cheio de ensinamentos
e tempo.
Mate bueno cheio de outras cosas,
mas cheio de ensino e
sabedoria prá vida.
Que me ensinou há me defender
não dos potros e dos baguais,
mandam lombo no campo.
Que isso se apreende na escola,
das invernadas.
Ensinou há defender o corpo
dos homens.
Porque o homem diz que ama,
mas fere, cosa que nem o
bagual mais quebra que tem no mundo
faz no altar do campo.
Guardei os mates de um avô maragato!
Que sorvia seu tempo na historias
que um guri ouvia atento.
Mas o mate mais bueno que tomei,
até hoje.
Que sorvi foi de uma morena lá da vila.
Com jujos na água onde me veio de
mãos de carinho.
Que estanca há alma sovada
do tempo.
Que sempre busco no meu esse gosto bueno.
Desse mate que essa morena me deu
e devolvi junto o coração.
E nas silhuetas de um fim de tarde,
procuro no meu mate longo e frouxo.
O gosto de certos mates,
que sorvi e sorvo ainda pelos galpões.
Mas já sorvi mates dado com
há mão esquerda.
Que traziam malesas de tiro.
Onde só provei um e agradeci,
pelos os olhares que se atravessavam
na minha estampa.
Quantos mates já rondei
a nos apojos das manhas
antes de empeçar a lida.
Mate que já foi assassino,
nas pelejas de uma povo sulino.
Mas que se tornou, confidente
de tantos por seu sorver silencioso.
Guarda sonhos e pealos da vida,
mas guardo no meu esse que apreendi,
procurando o gosto bueno
de um mate de uma morena
lá da vila.