Repontando Rimas
Sou gaudério e, quando canto
Rimando deste meu jeito,
No verso grosso e mal feito
Ato um lenço à meia espalda.
Da memória faço armada
E o meu toso se alevanta.
Um cantador, quando canta
Num atavismo milongueiro,
Tem sempre um verso folheiro
A galopar na garganta.
Enquanto me vou cantando
Copo a banca da milonga.
Dança o bugio co’a araponga
E vou repontando as rimas.
Rimam bordonas e primas
Contando de uma peleia,
De um bagual que velhaqueia,
Do amor da china lindaça
E se afinam na cachaça
Num balcão de pulperia
Pois rima não se extravia
E guasca não cabresteia.