QUADRO A QUENTE
deixei correr a tinta
pelo feitiço das curvas
como quem despenteia arestas
dos poros às frestas
com pincel de uvas
a colorir as montanhas
do vale ao cume
das árvores às (de) copas
a gosto das polpas
cadentes ao lume
prendi-me às escarpas
com pintas de inchaço
tombei sobre a gruta
que em pernas argutas
espremia o bagaço
já quase sem tinta
aos lábios mordidos
pintei água-ardente
e num quadro a quente
caímos rendidos
04-06-2024