AMOR SERTANEJO

 

A solidão avisa sobre a carência da pele,

o ardor da vivência sem o toque,

da secura do tempo,

quando o sopra o vento,

embaraçando os cabelos e os pensamentos!

 

A água salgada da fonte que não mata a sede,

também não põe mais ilusões

ao entardecer das tardes;

e quando chega a noite

não há com quem dividir a dor,

ou o sonho.

 

Levantam-se as saias pelo calor do sol,

As pernas morenas, queimadas.

Os dias que se vão à deriva,

no anseio que escorre

junto ao suor,

mesmo à sombra do cajueiro.

 

É quando a poesia se faz necessária,

na terra vermelha do sertão,

nessa soledade desembestada,

que carrega toda a quimera num arrasto!

... e o verso nasce,

é parido com dor de parto à fórceps,

choroso ao vir a este mundo morto do meu amor.

 

Amor idealizado,

Apaixonado, louco de desejo...

... desejo molhado de lágrimas

Lágrimas que vertem palavras,

em madrugadas quentes,

quando não se consegue dormir,

nem velar.

É a hora mais escura,

ao mesmo instante em que raia a luz,

nas asas do poema juriti,

que canta nas moitas cheirando à capim limão.

 

 

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