Pele

Conseguimos disfarçar quase tudo, o desvio de um olhar, o esconder das mãos suadas, o tremer das pernas inquietas, um sorriso no canto da boca, a malícia do pensamento que voa.

Mas não conseguimos disfarçar o eriçar da pele que mesmo sem ser tocada se revela interessada, que ao menor dos pensamentos surge aquela fincada no âmago de nosso estômago ou mais abaixo.

Pele que com pele se confunde, se enlaça e jamais desata.

Pele que não se contem quando a voz do ser amado a entorpece, quando o beijo mais que desejado a estarrece, quando os olhares se cruzam e tudo que há ao redor se desvanece.

Pele que ao simples toque se embriaga, que faz ascender o querer que não se acaba e o desejo que não se aplaca, que somente no encontro das vontades se faz satisfeita mesmo querendo mais e mais, mesmo voraz em sua febre de sentir, o gozar é o que mais lhe apraz.

Não há disfarce que se sustente quando o calor do desejo aumente e a força da paixão transborde do peito e o suor traduza o que o corpo tenta esconder.

Quando a pele se eriçar, escute, pois quando ela se afogueia tudo é mandado às favas, não há nada que a possa frear, já que por dentro o corpo, a alma, o coração não controlam mais o que a pele tem a falar.