Foto: acervo pessoal

 

Encenação

Sombra, palco e coxia
tua voz ecoa muda...
Suspensa no ar
a bambolina esconde o grito
O gemido escapa
é farpa a cutucar-me
E perambulo sobre o traçado
esperando o acender das luzes
Ah, esse ensaio
onde me afagas e escapas,
deixando-me perdida!
Emendo minhas falas em tuas deixas
calas minha boca com a tua...
Nosso ato se completa
minh'alma revelada,
agora sossega extasiada...

 

(Sandra Laurita)

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*Interação do poeta Herculano Alencar

 

Palco vazio

 

Dá-me teus rijos seios para o beijo,

guarda o pudor atrás do fingimento.

Goza por nós a farsa do momento

nos camarins da arte do desejo.

 

Despe-te do disfarce e, no ensejo,

faz-me de objeto do cenário.

Deixa guardado, dentro do armário,

os vestígios de mim, como sobejo.

 

Lê, com vagar, a linhas do diário,

como, nos velhos tempos, eu as lia.

Recita, com voz de atriz, a poesia

como se fosse um mote literário.

 

Troca o meu beijo doce e solitário,

pelos beijos salgado dos mundanos.

Já borrei teu batom por tantos anos,

que já não caibo mais no calendário.

 

Bem sabes tu, que quando cerra o pano

no apagar das luzes da ribalta,

se um coração, do outro, sentir falta,

o outro já achou um novo um dono.

 

O coração amante é um piano,

capaz de se ajustar ao tom da flauta

          (Herculano Alencar)

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*Interação do poeta Jacó filho

 

ENCENAÇÃO

 

Na peça de nossa vida,

O amor nos dirigindo,

O palco é uma subida,

Por onde Deus está vindo,

E nosso amor nos leva,

Rompendo dores e trevas,

Da forma mais atrevida,

E o povo assistindo,

Na peça de nossa vida,

O amor nos dirigindo...

             (Jacó Filho)

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*Interação do poeta Masé Quadros 

 

CENA SEM BILHETERIA

 

O boneco feio caiu,

caiu a marionete,

caiu a nossa história no palco.

Hoje não fazemos de conta.

Rasgou-se a rede, 

lavaram-se os olhos;

Fazemos de verdade,

 porque eles os são:

os fatos inéditos, a sede inédita,

o acontecer da vida nossa.

O palhaço mais alegre do mundo

não tem bilheteria pro seu choro.

Palco vazio, estudante só paga meia

e mulher gravida não paga,

pra que os filhos nasçam cultos

e copiem...

Gente depravada!

Gente inocente também, 

que vai cega e corta nossas asas.

Ficam os fios orgânicos, 

presos a organismos tarados.

Lava-se agora a casa,

põem-se flores 

- a azia dramatúrgica é curada, 

elixir das boas finanças, comodidade,

a memória que não temos.

Fantoches despenteados, 

homens grandes e pequenos se medindo...

Na confusão, um buraco pra espiar,

 ninguém com interesse.

Cena sem bilheteria.

 ( Masé Quadros)

 

 

 

 

Sandra Laurita
Enviado por Sandra Laurita em 23/02/2023
Reeditado em 18/10/2023
Código do texto: T7725856
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