BOTAS USADAS
Sinto teu cheiro nas brumas
Quando a madrugada se despede
E o sol se insinua por entre as fendas da cortina.
... É como se tu ainda andasses pelos cômodos
Se houvesse feito amor comigo à noite inteira.
As paredes abrigam a tua sombra.
Assim como ainda há marcas de ti na minha pele.
E teu gosto na minha boca.
O teu latejar na minha rosa.
Botas usadas ainda percorrem estradas.
O poeta me disse ontem:
_ Não há tempo perdido!
Os minutos ao teu lado inspiraram-me versos de amor.
Sublime amor erótico.
Amor sensual.
Amor de ternura
Amor sublime
Nunca banal
Mesmo quando caótico.
Neste meu estado de espírito de tantos “eus”
Todos “teus”
Humores “meus”.
Sempre farei de ti poema,
mesmo quando já não for saudade
e quem sabe, outros homens pousarem sobre meus lençóis...
E sobre meu corpo,
e sob meus segredos.
Por enquanto ainda és presença.
Enches toda a alma do lugar!
(Dos meus lugares)
(Dos meus lagares)
Do meu sentir
De o meu agir
De o meu sonhar
E do meu gozar
... Rios que ainda transbordam em mim.
Quando sonolenta, arqueio o quadril e sinto-o dentro.
Profundo, nítido, presente.
Onírico prazer indecente.
Freneticamente
Poeticamente
No corpo em que habito
E na ponta dos dedos com que adentro a fenda e às palavras.
Amores rompidos ainda inspiram poemas.
Botas usadas ainda percorrem estradas.