ÉS POESIA
Não o perdi, porque nunca o tive
na vida, no corpo, na lida,
nem na ponta dos meus dedos
ou mesmo da minha língua.
... Então, como sinto a tua ausência?
No corpo a saudade, a ausência,
quando vago pela cidade
cruzando becos, fazendo alardes
desta dor
que é quase uma indecência!
Como é possível tornar-te verso,
se nunca beijei tua boca ou abarquei o teu peito?
No entanto, és poema confesso
na mesa, na escrivaninha, no leito
numa loucura desvairada,
de quem já não sabe nada...
... És poesia.
E para tal não há quem desvenda,
esta surdez, mudez, esta venda,
de quem ama na utopia.
Não o perdi, porque nunca o tive
na vida, no corpo, na lida,
nem na ponta dos meus dedos
ou mesmo da minha língua.