ÉS POESIA

 

 

Não o perdi, porque nunca o tive

na vida, no corpo, na lida,

nem na ponta dos meus dedos

ou mesmo da minha língua.

 

... Então, como sinto a tua ausência?

No corpo a saudade, a ausência,

quando vago pela cidade

cruzando becos, fazendo alardes

desta dor

que é quase uma indecência!

 

Como é possível tornar-te verso,

se nunca beijei tua boca ou abarquei o teu peito?

No entanto, és poema confesso

na mesa, na escrivaninha, no leito

numa loucura desvairada,

de quem já não sabe nada...

 

... És poesia.

E para tal não há quem desvenda,

esta surdez, mudez, esta venda,

de quem ama na utopia.

 

Não o perdi, porque nunca o tive

na vida, no corpo, na lida,

nem na ponta dos meus dedos

ou mesmo da minha língua.

 

Elisa Salles
Enviado por Elisa Salles em 10/03/2022
Código do texto: T7469676
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