Inferno de amar

No amor demais que me incendeia

Sobem as faíscas de poeira em fogo

Donde avisto-te em espectro

Distanciado pela fumaça de minhas chamas.

Se tu soubesses do amor que me arde inteira

Não privarias meu corpo de tua brasa

E não relegarias a mim tua água vomitada

De desdém e asco.

És indiferente ao que me queima

O fogo que arde em mim sequer te amorna a pele

E o desprezo com que me banhas

Transfigura em cinzas mortas minhas partes mais queimadas.

Não é só meu coração que arde

Minhas entranhas queimam e escorrem líquidos adocicados pelas pernas

Os montes de meus seios gritam em contrações involuntárias de querer-te

Meu olhos choram lava, sulcando minha pele envelhecida de esperar-te.

Quanto desprezo teus olhos carregam

Nem me olham, nem me sabem.

Sobem poeirinhas chamuscadas do meu pensamento

Em que te vejo poético, quase um deus, Hefesto.

A lúgubre figura deveria ser detestável, mas me molesta, tenta, me mata.

Amo-te ou apenas te quero?

Querer-te é um mistério.

Amar-te um devaneio.

Parece que quanto mais me repeles, mais amo, mais pertenço a ti.

Quanto mais pertenço, mais me perco, mais me queimo.

Arder em brasa me adoece, fere minhas carnes,

Mas amo-te, queimando assim, no fogo do inferno.

Cyntia Pinheiro
Enviado por Cyntia Pinheiro em 21/10/2021
Código do texto: T7368540
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