Do pouco tempo...
Do pouco tempo que me resta
Vejo a vida como um mero espectador
Através de uma fresta...
Pela cidade já não ando
Pelo teu corpo já não amo
Aos céus, sequer eu clamo...
Do pouco tempo que me resta
O vírus é o rei, com sua coroa
A realidade se esboroa
É tarde demais.
E, tal como disse Marx,
Tudo que é sólido se desmancha no ar...
Não me manifesto, deixo estar
Imobilizado, contido, escondido
Espero passivamente a vida passar
O recurso acabar
Espero, enfim, me encontrar
Desvalido
Pois, neste trágico momento
Nem lutar seria válido
Apenas um mero espernear
Inútil?
Do pouco tempo que me resta
Não há mais nada de útil
Nada mais presta...
Que tal adiantar o final da festa?