A colecção de abraços que nunca se deram…

A colecção de abraços que nunca se deram…

a brisa incerta da tarde me traz à fronte e à compreensão

a carência atroz do tempo que não findou

e a caderneta vazia, sem cromos ou memória…

Sei só que o tédio que sofro se me ajusta melhor,

um momento, como uma veste que continua a roçar numa chaga

a dor amenizada pelos beijos, não morre pela carência do receber…

há um abraço por entregar…

e nasceu o sol, e veio a manhã, depois a tarde e nem à noite…

há uma clareira aberta, onde cantam os pássaros

um lenhador solitário, casas de chocolate…

flores que irão florir e ninhos de ovos férteis

uma monotonia no ruido dos bichos…

e somos bichos,

- sou bicho…

como a carência dos bichos e fome de Primavera

tudo quanto amamos ou perdemos — coisas, seres, significações

e tudo o que nos roça a pele e assim nos chega à alma,

e o episódio não é, em Deus, mais que a brisa

mais que um leve roçar de sol na face…

e nada me faz salvo no alívio suposto,

o momento propício – um abraço com poder de beijo

um beijo com fome de prazer

e o poder perder tudo espontaneamente…

e uma colecção de abraços vazia…

com fome de vida…

Alberto Cuddel

09/08/2020

05:40

Poética da demência assíncrona...

Alberto Cuddel
Enviado por Alberto Cuddel em 06/12/2020
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