Quando a boca se cala


Ela, cativo peitoril da janela dos meus olhos
que nega uma passagem;
ser eclipse, transitando entre mim e a lua.
Ela, vestida de branco, nua,
aguarda, nega a ausência,
furta-se ao deleitar, quase risonho,
que paira flutuante no paraíso,
desconhecendo sequer o abismo
na plenitude de ser só.
Ela, que aspira o ar do cântaro,
enquanto tenho sede,
contemplando a cascata rendada
na tintura que veste a madrugada,
nas inebriantes ondulações das nuvens,
trocando, se tocando
em um acasalamento sensual,
deixando cair gemidos pela garoa.
Ela, que amanhece
e vê quando a tarde se despe,
se entregando novamente a noite
que faz seu abraço de gigante
me humilhar em tanto amor.
Ela que percebe, revela e conta
cada estrela cadente,
não faz o eclipse
para que ao menos de repente
eu possa, possa vê-la.
A silhueta despida
derrotando meu ego,
falando de amor, soluçando na saudade.
Coisas, que por orgulho,
a mim mesmo, às vezes nego.