DEVORAR-TE-EI, AINDA QUE ME DECIFRES. DECIFRAR-TE-EI, MESMO QUE ME DEVORES!
Sua indecifrabilidade e sua infagocitabilidade eram-me como pétreas verdades que, como uma intransponível muralha, mantinham-nos distantes.
Improfícuos foram os olhares na tentativa de criar uma abertura pela qual eu pudesse passar.
Qual não foi minha surpresa ao constatar que apenas um sorriso tinha sido mais eficaz que mil olhares:
Não havia mais muralha!
E as, até então, pétreas verdades nada mais eram que equívocos de quem a observava de longe.
Um único toque me permitiu decifrá-la. E, diferentemente da Esfinge sofocleana — que não devorava os decifradores de seus enigmas—, partiu ávida para cima de mim...
A voracidade transbordante de seu olhar, a força com que seus dentes cravavam seus lábios e o ímpeto com que suas unhas me sangravam a pele não me deixavam dúvidas: eu seria devorado ali mesmo...
E como também a queria, devoramo-nos mutuamente!
Maikon Jekson, 02/07/2019