Olhos que devoram
Seu cheiro se reaproxima,
Olhos fixos abertos me devoram,
Como se desvirginassem a flor,
Como se não enlouquecessem...
Repletos de tesão e prazer,
Sustém um brilho tardio...
Pupilas surpreendidas pelas minhas,
Vorazes por qualquer resposta,
Como se eu também não estivesse surpresa...
Mantenho um suspiro entrecortado,
Enquanto o mar dos seus nos meus transborda,
Com a mesma licença de antes,
Como tudo pudera ser...
Despe minha alma e pensamentos,
Levito, vagueio, intorpeço
Refém das suas respostas, ações e beijos.
Ah! Desvio meus olhos do mar dos seus,
Louca, cruel, insana,
Como se quisesse acalmar os mares,
Como se fosse imune às torrentes...
Como se pudesse separar oceanos!
Nesse instante, também se desvia
Também absorve toda amargura e vai!
Salta o peito um apelo mudo,
Não há calmaria, não há silêncio,
Tudo berra e se agita dentro de mim!!
Mas os olhares se descruzam, se separam, se amputam!
Como as despedidas mais longas,
Como os amores mais tenros,
Como paixões mais intensas...
E dos meus olhos transborda uma lágrima seca,
Uma palpitação incoerente,
Uma inércia!